CINOFILIA e a criação

por Marcello Alonso

O que concebo de criação de cães de raça se insere a seleção de cinofilia. Não consigo me imaginar criando cães sem adotar os critérios previstos pela técnica cinófila, sem buscar a perfeição da aparência ou sem aprimorar no sentido único de preservar as características de uma raça. O termo criar, para mim, é mais que apenas colocar filhotes no mundo; é buscar a cada ninhada mais uma “pecinha” deste complexo “quebra-cabeças”, que é a construção de um cão quase perfeito pelo ponto de vista da raça enquanto constituída. O Padrão Oficial existe e não deve ser desprezado por modinhas do mundo moderno, pois levaram-se anos para que conseguíssemos chegar até aqui e, no Brasil principalmente, onde Cinofilia para uma grande maioria nem sabe que existe. Frases como: ora … o que é isso? Não sabia nem que existia, do que se trata? Mas, pedigree é necessário, mas para que serve mesmo? Então, mas não é muita frescura tudo isso; é só um cachorro! Essas, continuam sendo, agora mais que antes, algumas das afirmações que ouço. Diria que ocorre em virtude da popularização das raças caninas e da concepção de filhotes de raça como objetos de desejos.

Muitos dos cãezinhos comercializados no Brasil não seguem a nenhum critério de cinofilia, e nós, que levamos anos para chegar próximo da aparência perfeita de um cão, com características técnicas e comportamentais previstas e condicionadas pelo padrão oficial da raça em questão, acabamos por perceber o quão foi inútil nosso trabalho. E nos perguntamos: para que mesmo eu crio (no sentido cinófilo) cães? A resposta é sempre imediata: crio pra mim, é a minha satisfação que a minha criação supre, e vender filhotes, embora necessário para mantermos nosso hobby, um hobby caro, muito custoso e muito trabalhoso, é consequência do nosso amor pela raça que criamos. Mas talvez, sejamos equiparados aos criadores que nada fazem, apenas colocam macho com fêmea para acasalar dentro de critérios que eles mesmos estabelecem como regramento. Nós cinófilos seguimos os regulamentos de criação proferidos pelas instituições da qual fazemos parte.

Comércio de cães de raça sempre existiu, quando não era o facebook, o instagram ou qualquer outra rede social, era o Jornal Primeira Mão, os anúncios de três linhas do jornal de maior circulação da nossa região, aqui na Baixada Santista era o Jornal A Tribuna, que tinha na seção dos Classificados, uma coluna ou mais só de anúncios de cães; e também sim, já havia quem só vendia filhotes e nem queria saber de pedigree, tanto que era comum a frase: “sim tem pedigree e tudo”, como se o pedigree completasse o cão. O pedigree é inerente ao cão assim como o CPF é inerente ao cidadão.

Pois bem, mas para que serve mesmo o pedigree? Para o comerciante de filhotes, talvez para justificar a pureza da raça, ou para certificar a credibilidade de quem está comerciando. O pedigree é documento inerente ao cão e não pode deixar de ser entregue junto com o cão. E para o criador, este documentoserve para quê? O criador que faz Cinofilia, planeja, programa e trabalha de forma a utilizar a genealogia do exemplar canino a favor da criação, utilizando-se das informações contidas no documento e escolhendo entre indivíduos que podem ser complemento um do outro, buscando genéticas que se completam, e assim, transferir aos descendentes, maior probabilidade de conteúdo genético que fortaleçam características rácicas essenciais para a preservação, evolução e aprimoramento da raça canina. Um cão campeão de raça em Cinofilia, para um criador, é o principal atestado que o cão está muito próximo da perfeição rácica, e portanto, que poderá transmitir aos seus descendentes, maior quantidade de características rácicas que o aproximam muito do cão ideal previsto pelo padrão oficial de sua raça.

É essa a minha busca até hoje. Por isso, mesmo com tantas inoportunidades legais, comerciais, etc, continuo criando meus cãezinhos, pois são eles, apenas eles, que me mostram a cada dia o quão é bom viver uma vida onde podemos desfrutar da atenção deles, uns mais apegados pela sua própria condição rácica, outros pelo mesmo motivo mais dependentes, mas por isso tanta diversidade de raças caninas, para que cada um de nós possamos escolher qual ou quais delas mais nos assemelham, e assim, desenvolvê-las.